quinta-feira, janeiro 20, 2005

Não conta pra ninguém

Todo mundo tem segredos. Ou pelos menos as pessoas interessantes. Nada mais chato que alguém mapeado, retilíneo, constante, bonzinho, doce, amável. Para mim, só vale a pena quem tem um cadáver no armário, uma sombra perigosa, um poço fundo. Pessoas simplórias são como muitos dias de sol seguidos: agradáveis e infinitamente entediantes.
É a falta de obviedade desperta a curiosidade. Não é à toa que os mitos nascem da dualidade, da pouca incidência de clareza sobre sua personalidade: ninguém fica embasbacado pela simplicidade do seu Zé da quitanda (no máximo, enternecido). Somos fascinados pelo que não entendemos, amamos o desconhecido—por isso mergulha-se à noite, escala-se o Himalaia, come-se fora de casa, trai-se. Por isso Jennifer Aniston é apenas uma menina doce enquanto Angelina Jolie, uma semi-deusa conturbada. Por isso os vilões são mais tesudos que os mocinhos: é só quando ultrapassamos a barreira do familiar, do seguro, que nos tornamos verdadeiramente pessoas. Menos ingênuas, é certo, mas completas.
Ter segredos é viver intensamente, é a prova de que a realidade é muito mais do que nossos forçados sorrisos de bom dia, o escritório claustrofóbico, o saldo negativo. Ter segredos é ter coragem de arcar com o peso de ser único. Porque quem não se arrisca, não faz besteira, não vive: apenas gasta o tempo que deveria ser aproveitado apaixonadamente. Apenas caminha sobre os dias rumo à morte.

Escrito por Ailin Aleixo. Visite seu site: http://mulherhonesta.sites.uol.com.br/

Anos 80

Anos 80: eu vi(vi) e não gostei
De Edson Aran.

O passado não leva ninguém pra frente.
Mas nostalgia dos anos 80 já é apelação. Aquilo não prestou, gente boa. Olha só: o presidente do país era um bigodudo maranhense que parecia chofer de praça. “Toca pra onde, doutor? Ah, Primeiro Mundo não dá não, chefia. Só dá pra ir pro Terceiro e, ainda assim, com bandeira dois.”

A inflação era de 300% ao mês. De quinze em quinze dias, mudava o nome da moeda. Começou com Caraminguá, depois virou Caraminguá Novo (com três zeros cortados), depois Cracatua e, finalmente, Cracatua Nova (seis zeros a menos). No final da década, já tinha supermercado aceitando pagamento em tampinhas de garrafas, conchinhas e bolas de gude.

E a vida cultural, então? O país era tão atrasado que tratava crítico de música feito gente! Toda manhã, o indivíduo chegava ao jornal (depois de uma noite tórrida com o Ditão, do caderno de Esportes), sentava (de ladinho) e inventava moda. A gente acordava yuppie, virava neo-punk e terminava a noite como dark. Quanto não estava muito inspirado, o crítico de música pegava uma matéria da Rolling Stone, traduzia e assinava. Isso era chamado de pós-modernismo e, geralmente, rendia promoção e Prêmio Esso. Afinal, revista estrangeira só tinha na livraria do aeroporto. E cada uma custava o equivalente a uns cinco bilhões de cracatuas.

A primeira formação dos Titãs tinha 365 vocalistas. Eu estava lá e vi. Era mais gente do palco do que na platéia. O roqueiro mais balado do país tinha a língua presa e cantava assim: “Zua ziscina ezá zeia de zatos.” Ou então: “Vais uma záze, é zaro que eu zô a zim...”

Nos anos 80 tudo andou de marcha a ré. Xuxa, por exemplo. Depois de vencer concurso de Panteras e filmar um softporn do Walter Hugo Khoury, voltou a ser virgem. E, já que falamos em vir de ré, a mulher mais cobiçada do país era a Roberta Close. Com todos os originais de fábrica. Só muito mais tarde ela cortaria as jóias da família e daria pro cachorro comer. Sim, tinha o biquíni fio-dental, que era bacana e sacana, mas você nunca sabia o que estava escondido do outro lado da coisa. Encher a mão era mais que um descuido, era quase uma paixão nacional.

Nos anos 80 todo mundo tinha caca na cabeça. Como o corte de cabelo mullet, por exemplo, que era curto na frente e comprido atrás. O pior era agüentar as piadas: “Ah, você deixou o comprido atrás, hahahaha!” Combine isso a paletós gigantescos com ombreiras, gravatas multicoloridas com estampas do Mickey Mouse, óculos de aros vermelhos e você terá uma idéia da desgraça que foi a década.

Só tem saudade dos 80 quem nunca esteve lá. Quem conheceu de perto acorda suando frio e gritando toda noite.

Edson Aran é cronista especialmente convidado do Blog Blônicas. Visite seu site. Blônicas - 12h04 [ (11) Comentários, faça o seu também! ]

sexta-feira, janeiro 14, 2005

Um pouco de Quintana

OS DEGRAUS

Não desças os degraus do sonho
Para não despertar os monstros.
Não subas aos sótãos - onde
Os deuses, por trás das suas máscaras,
Ocultam o próprio enigma.
Não desças, não subas, fica.
O mistério está é na tua vida!
E é um sonho louco este nosso mundo...


Mario Quintana - Baú de Espantos

quinta-feira, janeiro 13, 2005

Post de Apresentação

Olá, pessoal. Meu nome é André e, a partir de agora, estarei utilizando mais esta ferramenta de comunicação com o mundo para, na medida do possível, divulgar e compartilhar idéias com amigos, principalmente envolvendo temas como: o Direito (mais especificamente o Tributário), Tecnologia Móvel, Cultura, etc... Deixem os seus comentários! Valeu!